terça-feira, 30 de dezembro de 2014

© ssobrado, viseu, 2014 | 39




gnr | bem-vindo ao passado



Há vária gente que não gosta de evocar o passado. Uns por energia, disciplina prática e arremesso. Outros por ideologia progressista, visto que todo o passado é reaccionário. Outros por superficialidade ou secura de pau. Outros por falta de tempo, que todo ele é preciso para acudir ao presente e o que sobra, ao futuro. Como eu tenho pena deles todos. Porque o passado é a ternura e a legenda, o absoluto e a música, a irrealidade sem nada a acotovelar-nos. E um aceno doce de melancolia a fazer-nos sinais por sobre tudo. Tanta hora tenho gasto na simples evocação. Todo o presente espera pelo passado para nos comover. Há a filtragem do tempo para purificar esse presente até à fluidez impossível, à sublimação do encantamento, à incorruptível verdade que nele se oculta e é a sua única razão de ser. O presente é cheio de urgências mas ele que espere. 

Vergílio Ferreira, in Conta-corrente 5










terça-feira, 2 de dezembro de 2014



© ssobrado, porto, 2014 | a ponte



É urgente elevar a pessoa à posição do espanto. É daí que se abre o mundo. 
Qualquer coisa possui em si o mistério de tudo e a nossa distância vai daqui para ali, e volta. 

Pedro Paixão, in O Mundo é Tudo o que Acontece




na foto: Paulo Calatré