quinta-feira, 27 de dezembro de 2012



© ssobrado, paris, 2011 | take this waltz II




'Mas eu questiono, pergunto-me, será que são necessárias as palavras? Eu sei que entendes o que não sei dizer. Repito: eu sei que entendes o que não sei dizer. Essa certeza é feita de vento.  
Eu e tu somos esse vento. Não apenas um pedaço do vento dentro do vento, somos o vento todo. Escuta. (...)'

José Luís Peixoto, in Abraço




sábado, 1 de dezembro de 2012




© ssobrado, paris, 2011 | esse instante intemporal




                '- Não me olhes tanto!
                 e eu queria olhar-te ainda, até à tua eternidade.'

                 Vergílio Ferreira, in Em Nome da Terra





© ssobrado, paris, 2011 | take this waltz




Leonard Cohen | Take This Waltz




'Os sonhos! sempre os sonhos! e quanto mais a alma é ambiciosa e delicada, 
quanto mais os sonhos se afastam do possível. 
Cada homem traz consigo a sua dose de ópio natural (...)'

Charles Baudelaire, in O Spleen de Paris








© ssobrado, amsterdão, 2004 | stuck by this river






Here we are
Stuck by this river,
You and I
Underneath a sky that's ever falling down, down, down
Ever falling down.

Through the day
As if on an ocean
Waiting here,
Always failing to remember why we came, came, came:
I wonder why we came.

You talk to me
as if from a distance
And I reply
With impressions chosen from another time, time, time,
From another time.







© ssobrado, santiago de compostela, 2011 | devaneios



Que sempre existam almas para as quais o amor seja também o contacto de duas poesias, a convergência de dois devaneios. O amor, enquanto amor, nunca termina de se exprimir e exprime-se tanto melhor quanto mais poeticamente é sonhado. Os devaneios de duas almas solitárias preparam a magia de amar. Um realista da paixão verá aí apenas fórmulas evanescentes. Mas não é menos verdade que as grandes paixões se preparam em grandes devaneios. Mutilamos a realidade do amor quando a separamos de toda a sua irrealidade.

G. Bachelard, in A Poética do Devaneio







© ssobrado, évora, 2011 | curta metragem



(...)
- Mário - começou ela a dizer, interrompendo-se de quando em quando para beber - chegou sei lá de onde e ficou uma semana em Lisboa. E desapareceu... depois, desapareceu... até hoje. Apaixonámo-nos, uma paixão repentina, não nos largámos mais. Até a cidade mudou durante essa semana. Mas quando se foi embora, tudo o que me rodeava começou a morrer... e alguns dias mais tarde comecei a receber, com regularidade, bilhetes postais; chegavam dos lugares mais longínquos. Mário escrevera em todos os postais a mesmíssima coisa: 
"Encontrei isto num livro: os rios arrastam com eles a imagem das cidades que atravessam. Amo-te, Mário." 

Al Berto, in Os Jardins do Paraíso








© ssobrado, porto, 2011 | à espera




Nós vivemos habitualmente à superfície de nós, ligados ao que é da vida imediata, enredados nas mil futilidades com que se nos enchem os dias. Mas de vez em quando, o abismo da natureza, um livro ou uma música que dos abismos vem, abre-nos aos pés um precipício hiante e tudo se dilui num sentir que está antes e abaixo e mais longe que esse tudo. Há uma harmonia que em nós espera por um som, um acorde, uma palavra, para imediatamente se organizar e envolver-nos. E aí somos verdade para a infinidade dos séculos.

Vergílio Ferreira, in Conta-Corrente 3







© ssobrado, évora, 2011 | wild is the wind




De repente a cama vazia. A sensação de não pertencer mais aqui. Os corpos habituam-se aos corpos. Quando se separam é sempre por um corte, um rasgão. Fica a ferida. É preciso ter cuidado, prestar atenção. As mulheres são seres alados que voam para longe. Os graves homens não. De repente, à luz da noite, a cama é um deserto.
Chamemos as coisas pelos nomes. O amor que transportamos vai-se gastando por onde passamos. Não nasce do vento. O que levamos deste amor para aquele é muito pouco, não chega para nada. É preciso ter a vontade e a energia e a concentração para começar tudo outra vez. Não somos donos de nada. O que mais importa é o que só se passa e nem se deixa tocar com os dedos. É preciso ter cuidado. De repente, à luz da noite, uma só aflição.

Pedro Paixão, in Amor Portátil