terça-feira, 22 de janeiro de 2013



© ssobrado, terezin, 2010 | zona cinzenta


A «zona cinzenta» é aquela onde o bem e o mal não estão nitidamente delimitados, onde as vítimas e os seus perseguidores se encontram por vezes do mesmo lado, o dos prisioneiros. (...) O interior dos campos era um microcosmos intricado e estratificado; a ‘zona cinzenta’, a dos prisioneiros que, em qualquer medida, se calhar mesmo por bem, colaboraram com a autoridade, não era estreita, pelo contrário, constituía um fenómeno de importância fundamental para o historiador, o psicólogo e o sociólogo. Não há prisioneiro que não se lembre disso, e que não se lembre do seu espanto na altura: as primeiras ameaças, os primeiros insultos, as primeiras pancadas não provinham dos SS, mas sim de outros prisioneiros, de ‘colegas’ daquelas misteriosas personagens que no entanto vestiam a mesma túnica às riscas que eles, os recém-chegados, acabavam de envergar.
Primo Levi, in O Dever da Memória





Sem comentários:

Enviar um comentário